Como você definiria o seu ciclo menstrual: abundante, escasso, frequente ou raro? Cada característica pode estar dizendo algo sobre a sua saúde. Quanto antes você investigar os sinais que o seu corpo mostra, melhor
Há mulheres que se sentem inchadas com oscilação do humor. Outras nem ligam, até se acham femininas e atraentes. A menstruação, no entanto, é muito mais que um desconforto mensal, uma prova de feminilidade ou o aviso de uma gravidez que não ocorreu. Ela é uma forma de o corpo enviar sinais de como anda a saúde do sistema reprodutivo. Ao observar o período, é possível perceber se algo não vai bem. Alterações só devem preocupar quando ocorrem por mais de três meses e se diferem muito do que a pessoa está acostumada. “Às vezes, estado emocional, dietas ou viagens podem modificar ciclo”, explica a ginecologista Lucila Pires Evangelista, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Em princípio, não há um padrão de menstruação. Em média, o ciclo é de 26 a 34 dias, o fluxo dura de três a sete dias e a quantidade varia de 100 a 150 miligramas. “O normal é ter intervalo
e fluxo regulares, sem dor ou depressão”, afirma o ginecologista Thomaz Gollop, professor da Universidade de São Paulo. Cólica, dor nas mamas inchaço são sintomas comuns. Outras alterações
merecem ser investigadas. Veja algumas delas e o que podem estar manifestando.
QUANDO ELA É DEMAIS
Para a maioria das mulheres, trocar o absorvente quatro vezes por dia é o suficiente. Se for preciso trocá-lo a cada hora, o fluxo é exagerado. Há várias causas para o problema. Os miomas e tumores benignos, são um exemplo que se manifesta em 30% das mulheres
idade reprodutiva. Eles provocam sangramento e cólicas. O tratamento é feito com remédios ou cirurgia. A gravidez tubária é outra. Ela atrasa a menstruação e provoca fluxo irregular e abundante. Mais uma possibilidade é o dispositivo intra-uterino (DIU), que altera o ciclo em cerca de 90% das mulheres ainda a endometrite – infecção no útero que causa dor e aumenta o sangramento – e os cistos. Antibiótico e pílulas resolvem ambos, respectivamente.
QUANDO ELA É POUCA
Para algumas mulheres, a menstruação é rápida e passageira. Em três dias, elas estão livres do desconforto. Quem usa pílula anticoncepcional também percebe uma redução, tanto na quantidade
como na duração do ciclo. “Certas pessoas até ficam completamente sem menstruar”, alerta a ginecologista Maria Lúcia Sarmento Faria. Mas, se era de sete dias e passa a durar apenas dois ou três, é preciso verificar o motivo. Apesar de rara, a menopausa precoce, que atinge mulheres com menos de 40 anos, é uma possibilidade. O tratamento consiste em reposição hormonal. Há também casos de curetagem no útero que resultam na aderência das paredes uterinas, e isso reduz o sangramento. O problema é corrigido com cirurgia pequena ou com o uso de dispositivo intrauterino.
QUANDO ELA NÃO VEM
Gravidez descartada, estresse controlado e mesmo assim a menstruação não ocorre por três meses ou mais. Esse quadro caracteriza a amenorreia. Nas mais jovens, é menorreia hipotalâmica, com fundo estritamente emocional. Para mulheres acima de 40 anos, os sintomas descrevem a menopausa. Em superatletas, a menstruação também pode parar. O excesso de exercício interrompe a ovulação e, consequentemente, diminui a produção de estrógeno. Há ainda a possibilidade de ser um tumor na hipófise, que produz prolactina e cessa o sangramento. “O tratamento é fácil e sem grandes complicações”, esclarece a ginecologista Maria Lúcia Sarmento Faria, da Universidade
Federal de Minas Gerais. ‘”Pode ser feito com cirurgia, radioterapia ou à base de medicamento.” Muitas vezes, a falta da menstruação é o primeiro sintoma do tumor – o que aumenta a importância de ir
fundo em qualquer alteração.
QUANDO ELA APARECE FORA DE HORA
Um pequeno sangramento entre duas menstruações não é raro. Ele acontece exatamente no meio do ciclo, quando há uma queda de estrógeno. Nesse período, a função é absolutamente normal. “Mas é preciso verificar se não há outras patologias””, explica Lucila Pires. Para mulheres que usam a pílula anticoncepcional, o esquecimento de um comprimido às vezes provoca sangramento. Quando
persiste e se toma abundante, não é comum. A causa pode ser pólipos — crescimento anormal do tecido do endométrio. Eles são retirados com cirurgia simples ou cauterização. A endometriose, caracterizada pela implantação de tecido da camada inter-
na do útero em outras partes do corpo, como ovário e trompas, também deixa a menstruação irregular. Outro motivo que provoca secreção sanguinolenta é a clamídia. Sexualmente transmissível, a bactéria causa infecção no útero, nas trompas e deixa o local dolorido. Trata-se com antibiótico.
QUANDO ELA É MUITO FREQUENTE
Intervalo de menos de três semanas entre cada menstruação sugere que algo está errado. Em 30% dos casos, a hemorragia uterina disfuncional não apresenta nenhuma causa específica. Para esses, a pílula anticoncepcional resolve. Nos outros, um exame de sangue esclarece o motivo do problema. Normalmente, esse incómodo ocorre quando há baixa de progestero na ou estrógeno ou outros distúrbios hormonais. “Pode ser um desequilíbrio da função da tireóide, do ovário, da hipófise ou até da glândula supra-renal”, afirma o ginecologista Thomaz Gollop. Mas ele também surge quando existe ovário policístico, pólipos ou miomas.
QUANDO ELA DEMORA – CICLOS ESPAÇADOS
Um período até 35 dias entre duas menstruações é considerado normal. A situação fica alarmante quando os ciclos se distanciam a ponto de a mulher ter apenas seis menstruações no ano. A primeira suspeita é de disfunção hormonal: excesso de prolactina ou de hormônios masculinos. Outras possibilidades são a desnutrição — devido a dietas hipocalóricas – ou o excesso de exercícios. No primeiro caso, trata-se estabilizando o funcionamento hormonal, seja com pílula anticoncepcional, seja com hormônios. Já no segundo, cuida-se da alimentação. Ovários policísticos também alteram o organismo e a produção de hormônios. Frequentemente, normaliza se o ciclo com pílula. ‘”Os fatores são inúmeros”‘, explica o médico Thomaz Gollop. “Por isso, qualquer intervenção requer cuidado.”