A aeronave prefixo PR-PFN aterrissou às 18h36 desta quinta (23), no Aeroporto Internacional do Recife, na Zona Sul da cidade.
O corpo do indigenista Bruno Araújo Pereira chegou ao Recife na noite desta quinta (23) em um jato da Polícia Federal. A aeronave prefixo PR-PFN aterrissou às 18h36, no Aeroporto Internacional Guararapes/Gilberto Freyre, na Zona Sul da cidade. O voo saiu de Brasília e teve uma parada no Rio de Janeiro, onde deixou com familiares o corpo do jornalista inglês Dom Phillips.
Bruno Pereira e Dom Phillips foram assassinados enquanto faziam uma expedição na região do Vale do Javari, no Amazonas. O crime aconteceu em 5 de junho e os corpos foram encontrados dez dias depois. Os corpos foram liberados para as famílias pela Polícia Federal nesta quinta, após a conclusão dos exames periciais.
Estavam no voo sete policiais federais e a perita do Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, Mariana Correia Martinez Bandeira, que atuou no caso.
Restos mortais do indigenista Bruno Pereira chegam ao Recife em avião da Polícia Federal
Na noite desta quinta, após a chegada do avião, o caixão com o corpo foi retirado do avião da Polícia Federal e colocado dentro de um veículo do Cemitério Morada da Paz, em Paulista, no Grande Recife, onde será realizado o velório e a cremação do corpo de Bruno Pereira.
O velório do indigenista ocorre no Morada da Paz a partir das 9h da sexta-feira (24), na Sala de Velório Central. O corpo de Bruno Araújo Pereira deve ser cremado às 15h.
Segundo os familiares, Bruno era católico, mas ao longo de sua trajetória se tornou um homem do povo, sobretudo dos povos indígenas. Eles informaram que no velório, que será aberto, haverá uma cerimônia católica, mas que qualquer manifestação religiosa que ocorrer será respeitada.
O caixão, segundo os familiares, deve ser coberto com símbolos de alguns dos amores do indigenista, como as bandeiras de Pernambuco e do Sport Clube do Recife.
Mensagens e orações
O cemitério disponibilizou uma página na internet para que as pessoas possam enviar mensagens e orações. Algumas horas após a divulgação do link, a página já tinha dezenas de mensagens de amigos e desconhecidos para Bruno Pereira e seus familiares.
“Bruno, sua voz continuará ecoando em defesa da Amazônia e dos povos indígenas. Vai em paz. Foi um privilégio te conhecer. Meus sentimentos à família”, escreveu Juliana Holanda.
“Aos familiares de Bruno, esposa e filhos, meus mais sinceros sentimentos. Não o conheci pessoalmente, mas admiro muito seu trabalho como indigenista. Também atuo na causa e ele sempre será referência e inspiração. Lutaremos por justiça ate o fim. Fiquem em paz!”, declarou Leticia Osorio.
Investigações
Laudos periciais confirmaram que Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos a tiros, com munição de caça. Segundo a Polícia Federal, o exame médico-legal feito pelos peritos apontou que a morte de Bruno Pereira “foi causada por traumatismo toracoabdominal e craniano por disparos de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, que ocasionaram lesões sediadas no tórax/abdômen (2 tiros) e face/crânio (1 tiro)”.
Já “a morte de Dom Phillips foi causada por traumatismo toracoabdominal por disparo de arma de fogo com munição típica de caça, com múltiplos balins, ocasionando lesões principalmente sediadas na região abdominal e torácica (1 tiro)”.
Bruno e Dom viajaram para o Vale do Javari, entre as cidades de Atalaia do Norte e Guajará, na tríplice fronteira Brasil, Peru e Colômbia, quando desapareceram.
A área possui 8,5 milhões de hectares demarcados, sendo a segunda maior terra indígena do país – a primeira é a Yanomami, com 9,4 milhões de hectares.
Segundo a Polícia Federal, a dupla foi perseguida por pescadores ilegais e assassinados. As vítimas teriam sido mortas a tiros e os corpos, esquartejados e enterrados.
Três homens foram presos por suspeita de participação no crime e, nesta quinta, um homem se apresentou em uma delegacia no Centro de São Paulo informando aos policiais que participou dos assassinatos.
Quem era Bruno Pereira?
Filho de paraibanos, Bruno Pereira era pernambucano, nascido no Recife, e tinha 41 anos. Deixou Pernambuco nos anos 2000, para trabalhar na Amazônia. Ele desempenhou diversas funções na Fundação Nacional do Índio (Funai) na última década.
Bruno passou pela coordenação regional do Vale do Javari, exatamente na região em que ele desapareceu durante uma expedição, no início deste mês. Deixou a esposa, a antropóloga Beatriz Matos, e três filhos.
Homenagens
Bruno Pereira é considerado um dos maiores especialistas em povos isolados do Brasil. O indigenista chegou a cursar jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e participaria de um filme inspirado no trabalho dele.
No dia 16 de junho, o pernambucano recebeu homenagens pela trajetória em defesa dos povos indígenas. Segundo os familiares, Bruno amava Pernambuco, a cultura, o carnaval e o Sport Club do Recife.
Amava tanto o time de futebol que chegava a ligar pelo celular via satélite para saber os resultados dos jogos quando estava nas bases da Funai, onde não há comunicação.